sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Oficina Livre 2 - 04/08/2009

O encontro para a oficina livre de número 2 iniciou às 18:00h e terminou às 22:00h.
Iniciamos o encontro com a exibição do filme “Narradores de Javé”.
Em seguida realizamos uma discussão sobre aspectos relacionados ao filme (multiplicidade de narradores, papel do historiador, fato com registro escrito e oral, história oficial e a marginalidade, releitura etc).
Os cursistas foram solicitados a compor um ensaio, em duplas, sobre o filme, guiados por três questões norteadoras.
Por fim, foram realizadas as orientações para o próximo encontro e a elaboração de auto-avaliação escrita.

Discutir sobre as seguintes questões:

1 O papel de Antônio Biá como historiador ("uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito");
2 A multiplicidade de narradores: quem são (espaço geográfico, crenças, culturas e história de vida)? O que possuem? O que os une? O que os separa?
3 Escrita e oralidade (história oficial e os excluídos dessa história / patrimônio material e patrimônio imaterial (cultura e laços diversos com a terra).
Exemplo de ensaio produzido por cursistas:

Filme: “Narradores de Javé”

Antônio Biá, enquanto historiador, tinha o papel de narrar os fatos da origem da cidade de Javé com maior autenticidade, a fim de dar um caráter científico a eles, que precisavam ser aceitos como documento histórico, ou seja, um dossiê. Entretanto, os fatos acontecidos para serem escritos precisam atrair os leitores. Dessa forma, Antônio Biá entendia que era necessário construir uma narrativa que elevasse os fundadores de Javé a categoria de desbravadores. Biá primava pela elegância do texto e seu estilo literário.
Os narradores são os próprios moradores de Javé, cidade do interior da Bahia, onde as crenças religiosas são muito presentes, predominando o catolicismo e os rituais religiosos africanos, em virtude da colonização portuguesa e dos escravos africanos.
A cultura é típica de cidade do interior, habitada por pessoas simples, de origem humilde, vivendo em uma região que o governo deixou para depois. Sua história não tem registro pela própria falta de recursos. Os moradores possuem apenas as terras que puderam “cantar suas divisas”, suas casas humildes e apenas o necessário para sobreviver.
O que os une, na verdade, é a estreita relação entre eles através da sua história e a tentativa de salvar a cidade, detendo a represa. O que os separa é a multiplicidade de narrativas, tendo cada personagem o seu ponto de vista em relação à origem da cidade e de suas próprias vidas.
A escrita é o documento que comprova a história oficial da origem da cidade de Javé, partindo dos próprios excluídos da história, os moradores, descendentes diretos dos fundadores e perpetuadores da cultura local.
Como patrimônio material há um símbolo muito forte: o sino e, como patrimônio imaterial há a cultura, os resquícios dos antepassados, as histórias vivenciadas e, sobretudo, as narrativas.
Cursistas: Elizete S. Geraldi e Lilian C. Pires

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Meu eu virtual




Língua - Vidas em Português

Gestar II – Formação Continuada em Serviço
Filme: Língua - Vidas em Português

"Não há uma língua portuguesa, há línguas em português", José Saramago

O documentário, produzido por Victor Moraes, tem como fio condutor a variação da língua portuguesa em diversos países, como: Brasil, Portugal, Moçambique, Índia, Japão. Retrata a vida de cidadãos (não-atores) originários desses países, representando suas próprias realidades.
O longa-metragem retrata diferentes narrativas agrupadas em eixos temáticos que são apresentadas pela oralidade dos personagens. Atribui-se voz aos indivíduos sem a interferência de um narrador. Com isso a intencionalidade dos discursos dos personagens é evidenciada, assumindo aspectos de neutralidade devido à ausência da voz do narrador.
Ao utilizar o recurso visual da apresentação de flashes que intercalam cenas de diferentes países, provoca a sensação de uma viagem por diversas culturas em que está presente a língua portuguesa como pano de fundo. Ou dito de outra forma como afirma o escritor moçambicano Mia Couto "No fundo, não estás a viajar por lugares, mas sim por pessoas“.
Apresenta, ainda, em diferentes espaços geográficos, uma língua viva e multifaceta pelas diversas influências culturais, religiosas, étnicas, climáticas, artísticas, de gênero, de idade, social, de nível de escolaridade, ou seja, realidades amalgamadas a uma língua em constante transformação.
A coesão entre as cenas, aparentemente fragmentadas, no entanto, acontece através de imagens, músicas, temas ou falas comuns mescladas com suas similares em outro espaço geográfico. Isso ocorre com o intuito de dar o efeito de continuidade das narrativas que se completam. A aproximação dos espaços geográficos, através de recursos de imagens, se dá no momento em que a câmera foca a praia em uma ilha da África e logo em seguida focaliza outra praia, agora em Portugal. Em alguns momentos é necessário que o expectador busque outros elementos para identificar os espaços geográficos diferentes.
A própria língua portuguesa atua como elemento de coesão entre as narrativas apresentadas. Fica evidente, inclusive na fala de Saramago que o português não pertence mais somente a Portugal, mas que é uma “Língua da qual povos colonizados se apropriaram e que devolvem agora, reinventada”.
Dessa forma, cada indivíduo localizado em espaços geográficos diferenciados assume uma identificação com o idioma. A idéia de nacionalidade, portanto, ocorre como uma representação discursiva que varia de acordo com cada sujeito - um sujeito híbrido.
Este sujeito híbrido perde sua pertença, pois, como no exemplo dos imigrantes brasileiros no Japão, percebe-se que estão localizados em um determinado espaço geográfico que pode ser considerado um “não-lugar”, pois não são considerados cidadãos daquele local e concomitantemente perdem sua identidade com seu local de origem.
O discurso feminino foi pouco explorado, no entanto, aparece indiretamente e tem poder de influenciar e de transformar o discurso masculino. Outro exemplo é o do casal africano, cujo marido apresenta um discurso de liberação sexual “sou mulher em um corpo masculino” em oposição à esposa que tem um discurso de uma mulher extremamente submissa “a mulher tem que servir ao marido”, essa submissão é justificada pelo discurso religioso e, na prática, pela isenção da submissão, evidente na postura liberal do marido que se iguala à esposa. Por outro lado, o casal apresenta um discurso multifacetado, pois pretende seguir a tradição e ao mesmo tempo ser de vanguarda. Os dois frequentam a mesquita por serem muçulmanos, porém, desconfiguram-se enquanto estereótipo daquela cultura ao adotar costumes de outras culturas (quando saem para a “balada”, por exemplo).
O sujeito é perpassado por relações discursivas diversas, pois, segundo Stuart Hall, “a língua é marcada por um processo constante de desconstrução”. As identidades estáveis se desconstroem, porque recebem imposição discursiva vertical do colonizador (poder, estado, religião). E, ao mesmo tempo, é perpassado pelos discursos horizontais culturais, tornando-se um sujeito fragmentado, que se reconstrói através da multiplicidade dos discursos.
De acordo com essa perspectiva ampla, o ensino de língua e literatura não deve ignorar a diversidade linguística dos falantes. Ao considerar a função sociocomunicativa da linguagem, a escola pode ou não contribuir para que a língua seja um instrumento mantenedor de identidade. De acordo com os elementos norteadores (filosóficos e políticos) da concepção metodológica utilizada no processo de ensino.
Diante do fato de que a pós-modernidade desconstrói a língua padrão e constrói variantes, percebe-se que a língua tornou-se mais dinâmica. O filme reafirma isso quando aponta a globalização como um forte fator de influência de um idioma sobre o outro. Nesse caso, a dinamicidade da língua é reforçada devido ao trânsito de seus falantes por diferentes países.
A Literatura atua como instrumento de preservação do dinamismo da Língua. Resgata as origens sociais, políticas, econômicas e culturais dos grupos. A utilização da literatura no ensino propicia ao professor possibilidades de “mostrar” ao aluno a função social da escrita e sua representantividade em cada período histórico. Além de permitir que sejam lançados outros olhares sobre nós mesmos e sobre o Outro. A Literatura não despreza a força que a língua tem na cultura de um indivíduo.

Cerimônia de encerramento

A partida de Balneário Camboriú foi tranquila. A galera feliz: “Oba, vou pra casa colocar a vida em dia.”
De repente, uma mala esquecida! “Ora, vamos voltar, estamos pertinho.” Telefona daqui, de lá: fomos buscar. “Seu motorista, faz o retorno.” E ele fez. A polícia o parou. “E agora, meu Deus?!”
O cidadão, com a carteira vencida, falava ao celular para ter a certeza de ser visto pelo guarda. No ônibus, a galera aflita só queria ir embora e o motorista, cheio de razão: “Viu no que deu?” A culpa agora era da mala, não do mala.
Justificar a carteira vencida há um dia e o celular não foi difícil, mas... (porque história boa tem de ter um “mas”) o ônibus não tinha selo. “Selo?! Formador do Gestar viaja via correio?” O selo da Secretaria de Turismo!
O guarda não aceitou a explicação de que o Gestar não faz turismo, discute Educação. “Pague aí, seu motorista, resolva a situação.”
Ao lembrar da discussão sobre o belo e o grotesco, encontrei boa definição. Esse pequeno infortúnio foi grotesco, mas sem ele muitas não teriam conhecido o belo... guarda (sem relação com o Belo do Manda-Chuva).
Além disso, depois de uma semana tão agitada, seria frustrante ir embora sem uma boa cerimônia de encerramento.

Formação Balneário Camboriú

A segunda etapa de formação ocorreu em Balneário Camboriú no período de 20 a 24 de julho. Foi um período válido de reciclagem de ideias, troca de experiências e reenergização.