sexta-feira, 28 de maio de 2010

Olimpíada de Língua Portuguesa - A Crônica

Entre tapas e beijos


Se a crônica é o retrato da realidade, a realidade de um professor está entre livros, quadro, giz e ... alunos. Alunos e suas gracinhas corriqueiras. Todo mundo sabe que em qualquer sala de aula que “se preze” tem aquele aluno show buscando a luz de um holofote. O danado fica vermelho de tanto rir mas nunca por vergonha. Colocar uma figurinha dessas em saia justa adoça a vida de qualquer um.
Certa manhã, foi mais ou menos isso que aconteceu numa turma de 8ª série, sala cheia, alunos em torno de 14 anos, sentados em duplas. Início de aula. Devolução de avaliações realizadas em duplas. Mais uma vez, vários alunos colocaram seus nomes sem sobrenome e lado a lado com o do outro colega: “Joaquim e Roberto”, “Elizabete e Eloísa”. Cansada de explicar a importância de assinar os nomes completos em documentos e em linhas separadas, apelei para a ironia.
“Agora temos vários casais na sala. Só faltam os coraçõezinhos”. E comecei a falar em tom bem humorado os nomes das duplas que haviam assinado de modo errado. Rimos um pouco. Encaminhei as atividades. Alguns minutos depois, a sala em silêncio, e um aluno sai com esta:
“Ai! Machucou.”
“Ah, até parece.” – disse o outro (aquele do holofote).
“Doeu, sim!”
“Tá sangrando” – brincou alguém.
Não pude perdoar essa deixa:
“Que foi isso, pessoal?”
“Levei uma reguada, professora.”
“Ah, pensei que fosse arranhão. Pois é, o próximo passo de vocês vai ser fazer trabalho em dupla e assinar ‘fulano’ e ‘cicrano’ – devolvi.
“E eles vão colocar o coraçãozinho ao redor, professora” – emendou um engraçadinho.
Então as risadas foram gerais. Os dois continuaram discutindo a “relação”, tentando resolver questões de “ciúme”, segundo informações “quentíssimas” de um colega. Para finalizar a brincadeira, prometi, desejando que a turma entendesse melhor o texto crônica, foco da Olimpíada de Língua Portuguesa, elaborar uma em “homenagem ao casal”. Com a notícia, os dois alunos ficaram preocupados e ao mesmo tempo não acreditaram que eu estivesse falando a verdade. Mas aqui está minha homenagem.
Sei que os garotos mereciam texto melhor, principalmente, porque o “amor” deve ser valorizado em sua essência mais pura, mas em tão pouco tempo e sem “inspiração” isto foi o melhor que pude fazer. Valeu a brincadeira e o clima amistoso da turma que há tanto tempo eu não via. Desejo que ele continue assim.

Simone Constante Flores

Nenhum comentário:

Postar um comentário